quarta-feira, 17 de março de 2010

Replica Forte

Como eu já disse, não existem certezas nestas manifestações da natureza. Mas olhar pra trás e ver o que aconteceu nos outros terremotos dá uma idéia do que pode acontecer. Assim que estamos esperando um outro terremoto, na verdade uma grande replica, mas a boa noticia é que não será maior que o que tivemos.
Eu, que sou uma eterna otimista, creio que já tivemos nossa grande replica. E nos pegou dessa vez num cenário diferente: o terremoto foi as 4 da manha, quase todos em casa. A grande replica foi numa quinta-feira, 11 de Marco, às 11hs da manha. Adultos no trabalho, crianças na escola. E dentre as teorias que elaborei a partir de minha ignorância, logo depois de um tremor forte não viria outro. A teoria foi por terra, tivemos dois seguidos.

O primeiro me chegou/ como quem chega do nada.... e me pegou em reunião com meu chefe. Saí da sala dele, localizada perigosamente perto da janela de vidro, e fui encostar numa parede. Na minha casa já identifiquei vários pontos seguros, mas lá no trabalho é mais difícil. O teto é de placas, que se soltam facilmente; as janelas são vidros de cima a baixo, e varias paredes de gesso estão rachadas. Olho pros lados e vejo as caras aterrorizadas dos chilenos. Me senti muito insegura. Como balançava forte, mas dava pra caminhar, acabei indo parar na escada. É algo de instinto, creio, mas não gosto de escada em terremoto. Me sinto atrapada em uma ratoeira. Mas teve gente que saiu disparado escada abaixo. Eu e outro rapaz ficamos, ele e eu tentando ligar pelo celular, mas era impossível. Eu pensava na minha filha na escola, debaixo de uma mesa, conforme ensinaram. Também não gosto de embaixo de mesas...

Bem, parou, voltamos. Os homens passam e te dizem: tranqüila. O sujeito está branco que nem papel, mas tem aquela necessidade de macho dominante. OK, entendo. Entre os colegas, rimos juntos de nervoso, comentamos o que passou, eu catei o meu chefe e disse a ele que nem terremoto ia interromper a nossa reunião. Aí começou de novo.

Achei que era eu que ainda tremia de nervoso, mas você escuta o fatídico: esta tremblando! e pensa: puta que o pariu. Sabe o quê? agora vou buscar a minha bolsa, sei lá se tenho que sair correndo... Aparecem do nada umas pessoas organizando, indicando o que fazer, e lá fui eu pra escada de novo. Mas no corredor, a cena que não sai da minha cabeça: uma fila de gente encostada na parede, todos olhando na minha direção, e com uma expressão... não sei definir, um misto de pavor e pedido de ajuda. Fui pra escada e não pude ficar ali. Senti uma necessidade idiota de fazer alguma coisa. Voltei pra minha mesa, peguei um monte de papel pra reciclar, e fiquei tentando colocar um calço na porta para mantê-la aberta. Depois li que uma das reações possíveis, e que ajuda a acalmar, é ajudar a outras pessoas. Bom, ajudar efetivamente, eu não ajudei, mas me senti bem calma mesmo.

E minha filha, lá na escola? Não ficou embaixo de mesa, estavam na aula de educação física. Os alunos estavam correndo, ninguém sentiu quando começou o tremor, só escutaram a professora gritando, parem! Quando olharam, ela se abaixava, com a mao na cabeça. Tá bom, novo exercício. Quando abaixaram é que sentiram a terra tremer. O teto do ginásio começou a fazer um ruído horroroso, de metal batendo, e a garotada não teve duvida: debandada geral, largaram a profe sozinha, agachadinha, protegendo com as mãos a cabeça, mas bem debaixo de uma lâmpada, ainda por cima. Passaram os dois tremores no ponto de encontro lá no pátio, na sombra, bem longe de ameaças vindas do alto. Ainda sacanearam a professora quando ela apareceu, coitada.

Ai ai, não sei se dá pra ter uma idéia do que foi, aos poucos vou narrar o cotidiano, assim talvez dê para montar o mosaico de sentimentos que vão se acumulando. Porque não é mais só o susto que passamos no terremoto, também são as paranóias de cada um e as dos outros, são as noticias no jornal, os prognósticos, os fatalistas. Mas o melhor desabafo, já esta eleito: foi de uma brasileira que trabalha no mesmo lugar que eu. Baixamos todos do edifício depois do segundo tremor, ficou um montão de gente amontoada nas calcadas. Eu de um lado da rua, ela do outro, e ela me grita, lá do outro lado, em bom português:
Onde é que eu fui amarrar o meu bode!?!?!!

Um comentário:

  1. Sugestao de resenha para o Blog: jornalista toma um sacode daqueles e retoma o oficio.
    Nos aguarde que em julho, vamos ver a situacao in locu. Hasta.
    Beijos saudosos,
    Silvana

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