terça-feira, 23 de março de 2010

Benefícios da catarse coletiva

Escrever sobre os sentimentos pós-terremoto me fez muito bem. Falar sobre eles também é ótimo, li num artigo de jornal. Na pratica, já tinha percebido isso, porque há uma verdadeira compulsão, até com desconhecidos, de contar onde e como foi que passou o terremoto e a grande replica. O chileno normalmente é um latino mais fechado, até os motoristas de taxi, mas agora temos esse assunto em comum, e a compulsão em falar dele. Confesso que estou aproveitando o interesse natural que desperta um estrangeiro (que, como vocês sabem, não esta acostumado...) para acrescentar um pouco de emoção à minha historia: dramaticamente digo: “e eu, que passei no 20º andar...”. Ganho automaticamente vários pontos de simpatia por ter vivido esta experiência.

Mas é bacana dividir as sensações com os colegas de trabalho, gente com quem você pode ir um pouco mais além do circunstancial. A gente descobre que o que está sentindo, várias pessoas sentem também; isso faz com que o incomodo não seja algo estranho, mas sim normal. Isso reconforta. Semana passada, por exemplo, uma colega comentou que estava todo o tempo tonta. Eu eventualmente me sentia assim, mas para outra pessoa a sensação também era constante. Outras pessoas comentaram o mesmo, e sacaram a tese de que o principio é o mesmo da síndrome do mar, ou que nome tenha: uma pessoa que esteve muito tempo num barco, quando vai para a terra sente ainda o balanço das ondas. Ufa, era só isso... Depois de tantas réplicas, eu já não sabia mais o que era replica da terra, ou se as replicas se haviam instalado em mim.

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